Até Janeiro de 2020 virtualização era uma promessa. Mas como toda mudança é dolorosa, a mudança completa só acontece a força e foi pela força que o Virtual se tornou uma realidade. Hoje, em apenas 3 meses, quase tudo acontece em espaços virtuais. Mas o que significa ser Virtual?
Preconceitos
Antes de ir para o real significado da palavra, temos que analisar qual é o conceito anterior que temos com a palavra. Assim como você pode entender a palavra preconceito como algo ruim, a palavra não tem nenhuma significação negativa, apenas significa conhecimento anterior. Da mesma forma virtual tem várias significâncias, mas em nossa cultura temos que a de oposição ao real.
Tivemos em nossa história recente várias experiências de substituição da realidade.
Tivemos a experiência do Second Life (2003), que seria uma realidade completamente paralela onde usuários podiam assumir forma e localidades desconectadas do real. Seria possível criar uma nova vida, com relacionamentos distintos, corpos distintos.
Tivemos o advento das Redes Sociais, iniciada em 2002 pela Classmates.com e depois popularizada pelo Facebook. Nela as amizades e interações são realizadas no espaço do WWW (2000-2010) e posterior por meios de aplicativos de celular (2010-?). Nos anos 2000-10 era bastante comum ouvirmos os termos amizades virtuais, em diferenciação as amizades comuns, que se realizavam pelas interações diretas. Posteriormente esse termo foi depreciado, todas amizades começaram a ter a mesma gradação. Já no final dos anos 10, todos os relacionamentos se realizavam por meios de redes sociais, sejam relacionamentos de amizades, trabalho ou mesmo consumo. A Rede Social capturou tudo.
Nos primeiro exemplo vemos o Virtual em oposição ao Real com a completa desconexão entre ambos. No segundo exemplo, vemos o Virtual como um meio de interação do Real, que acabou por fim se confundindo com o Real. Se você não está na Rede, você simplesmente não existem.
Bibliografia
Uma das primeiras coisas que devo fazer para refletir sobre o virtual é pesquisar uma bibliografia, e por uma analise rápida encontrei:
- O Que É Virtual? de Pierre Lévy
- A Sociedade do Espetáculo de Guy Debord
- A cultura dos memes: aspectos sociológicos e dimensões políticas de um fenômeno do mundo digital de Viktor Chagas
O Que É Virtual?
O primeiro questiona bem o que quero refletir, mas de uma outra ótica.
- Qual é o significa da palavra Virtual?
- Quais tipos de virtualização é possível?
- Quais virtualizações já ocorreram com o humano
Pierre Lévy começa seu livro definindo a palavra virtual, esta vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. Na filosofia escolástica é o que existe em potência mas não em ato. Assim podemos definir que o virtual não se opõe ao real, mas ele antecedo o real. O virtual não tem relação ao falso, mas é a potência. Um amigo virtual seria uma amizade que tem o poder de se realizar.
A Atualização é o movimento de se transformar o virtual em real. Enquanto a Virtualização é o movimento de trazer ao real novas possibilidades. Logo, a Virtualização é o movimento contrário a Atualização.
O que vemos no mundo hoje é a criação de novos meios. Os espaços continuam os mesmo, mas novos meios surgiram. A distância entre uma cidade e outra, permanece inalterado, mas o meio de comunicação entre os meios foi reduzido. Assim, para os que tem acesso ao novo meio, as distâncias foram reduzidas, mas para os que não tem acesso as distâncias continuam as mesmas.
Com os novos meios, espaços são rompidos. O trabalhador que anteriormente só realizava seu trabalho no espaço físico deste, começa a trabalhar dentro de casa. O trabalhador que apenas trabalhava enquanto estava no espaço físico do trabalho, começa a ser acessível todo o tempo. Esse é o que o autor chama de Efeito Moebius, que em resumo é a característica de passagem do interior ao exterior e interior e vice-versa.
No tempo corrente temos acontecendo uma série de virtualização. Elas são possibilitadas por novas técnicas de comunicação, farmacológicas e até cirúrgicas. Alguns dizem que a própria biologia foi superada. Não somos mais limitados ao nosso corpo, sexo e genética. Podemos atualizar eles por meios de novas técnicas.
O Espetáculo como Linguagem
O Século XX foi marcado por uma revolução em uma área até então bem estagnada. Houve a popularização da Mídia. A Mídia ou os meios de comunicação, já existiam no século XIX, mas se tornaram parte do dia a dia de cada cidadão. Isso levou a mudanças quase radicais na cultura, houve a padronização da cultura e com isso um a perca incomensurável da diversidade cultural. Além disso houve o advento do que podemos chamar “A Sociedade do Espetáculo”.
Em resumo, na Sociedade do Espetáculo, as pessoas se relacionam por objetos culturais. A experiência não tem valor algum se não for registrada por um objeto, seja essa uma imagem ou um vídeo. Até os anos 2000 essas relações se davam exclusivamente por meios das grandes redes.
Mas o surgimento das Redes Sociais trouxeram grandes mudanças. O Real passou a ser Real apenas se registrados nas Redes Sociais, sua experiência não vale socialmente se não estiver registrada, publicada. Houve o advento que dos Influenciadores, pessoas que por meio das redes possuem um publico tão grande que são comparável a grandes meios.
O Virtual, o Real e o Fake
As Redes Sociais e suas interações muitas vezes são classificadas como Virtuais, mas o que podemos ver é a ascensão do Fake. Nas Redes Sociais há uma claro medida de performance, cada interação pode ser classificada e ter seu impacto classificado, seja ela pelo número de visualizações ou pelas reações.
As interações sociais sendo classificadas e tendo sua performance analisadas deixam de ser espontâneas e passam a ser planejadas. Não somente elas, mas todas as experiências que são publicadas em Redes Sociais não são meramente experiências, mas se tornam publicidade.
Com isso surge o risco da criação do Fake. Elementos culturais são criados, não porque experiências foram vividas, mas para criação de experiências falsas com a intenção de colecionar visualizações.
Viralização
Nas redes sociais, a informação é propagada de forma orgânica. Alice vê uma postagem de Bob, Alice replica essa postagem e assim Pedro vê a postagem. Em poucos segundos algo que aconteceu, pode chegar ao conhecimento de milhões de pessoas, sem nenhuma curadoria e nenhum filtro.
Informações que antes eram validadas por jornalistas e editores, passavam por filtros editoriais antes de serem publicadas. Hoje são compartilhadas a granel. Nem precisam ser verdadeiras. Bob pode compartilhar uma informação falsa em relação a Alice, e Pedro suporá que é verdadeira.
A viralização foi usada com sucesso em campanhas de divulgações. Tivemos por exemplo o sucesso de Batman: o Cavaleiro das Trevas, sem nenhuma inserção nas grandes mídias em uma época sem uma grande abrangência das Redes Sociais, foi possível alcançar um publico enorme. Uma campanha que antes era cara, se tornou barata com estratégias simples: estacionar o batmovel em uma grande cidade.
O Fake é dinheiro
Mas teríamos algum motivo para criar Fakes? Sim. Uma experiência Fake é cuidadosamente criada para se tornar viral, pois visualizações é dinheiro.
As grandes empresas de tecnologia são na verdade grandes empresas de publicidade. Os usuários são clusterizados e expostos a informações cirurgicamente direcionadas a eles, com isso essas empresas não só expõe essa propagandas em seus endereços, elas criaram APIs e ferramentas para que essas propagandas sejam colocadas em qualquer endereços. Assim ao acessar um site de noticias, você pode ver uma campanha de Marketing de uma empresa contratada juntamente com uma grande empresa de tecnologia. A página será paga pela empresa de tecnologia pela quantidade de views. Assim quanto mais views, mais será ganho pela empresa.
Com isso foram criadas algumas técnicas para o aumento de views. Uma delas é o que chamamos de ClickBait. O ClickBait pode ser feita pela cuidadosa escolha do título da noticia, este não precisa ter nenhuma relação noticia em si. Outra forma é a separação da informação entre várias páginas, mas esse é apenas usado por páginas duvidosas, enquanto a primeira técnica é usada por grandes meios de comunicação e tá mesmo políticos.
Conclusão
A realidade pode aparecer nas redes sociais como virtual ou como falsa. A informação em um mundo de Redes Sociais não passa por curadoria, assim é difícil confiar se são realmente uma informação. As experiências de usuário também não são confiáveis.