Há uma máxima que diz em Inglês “A Internet é Livre”. É engraçado como em Inglês a palavra Livre é a mesma de Gratuita e muitos prefeririam uma Internet Gratuita. Vou descrever o que significa uma internet livre e o porque liberdade é melhor que gratuidade.
Os Primórdios
A Internet surgiu dentro do Departamento de Defesa dos EUA, sua primeira versão era conhecida como ARPANet (1969). A intenção da ARPANet era criar uma rede de computadores que sobrevivessem a um ataque. Vale lembrar lembrar que era o auge da Guerra Fria e que realmente havia a iminência de um ataque Russo aos EUA. Logo uma das prerrogativas básicas dessa rede é que não devia ser centralizada e nem controlada.
A história da Internet é descrita em detalhes pela Internet Society. Um dos pontos principal dessa história é o Papel da Documentação. A Internet se tornou um padrão largamente usado por é baseada em Protocolos e não em Serviços. Cada protocolo é proposto por uma RFC (Request For Comments).
Você pode estar lendo esse texto por um Navegador, há navegadores de vários fornecedores de software e todos eles funcionam da mesma forma por causa da documentação. Temos a RFC2616 definindo o protocolo HTTP 1.1, que é basicamente como essa informações chegaram ao seu navegador. Essa informação é renderizada pelo padrão HTML 5.
Protocolos vs Serviços
Protocolo é a descrição formal de um serviço. Quando há um protocolo definido, tanto o servidor como o cliente podem ser implementados livremente. É por isso que quando vai se criar uma página Web, não é necessário pagar nada a quem criou o servidor Web. Seu padrão é aberto, qualquer desenvolvedor pode criar um servidor Web. Assim como qualquer desenvolvedor pode criar uma navegador Web.
Quando falamos de Serviços, podemos tanto falar de servidores de protocolos aberto, quando de servidores de protocolos proprietários. Por exemplo, há aplicativos de troca de mensagens nos celulares em que o protocolo não está disponível para acesso ao publico. Um cliente WhatsApp não pode interagir com um cliente Telegram, não conhecemos o protocolos e muito menos os servidores dessas aplicações. Este são Serviços.
Quando temos um Protocolo, podemos ter a liberdade de escolher fornecedores de Serviços. Quando temos apenas um Serviços, somos refém da empresa que o criou. Uma Internet baseada em Protocolos é uma Internet livre. Já uma internet baseada em Serviços não é uma Internet livre! Qualquer afirmação do fornecedor desse serviço deve ser aceita como um passo de fé.
Como temos um Canal de Comunicação realmente seguro
Nos últimos anos, a segurança da informação esteve em discussão. Alguns aplicativos de mensagem garantem que as conversas são criptografadas, tivemos o vazamento de e-mails da então Secretária de Estado dos EUA, tivemos vazamento de conversas de procuradores brasileiros. A pergunta que quero levantar é: como podemos ter um meio 100% seguro?
Como funciona a Criptografia?
A Criptografia não é algo novo, existe desde Roma. Em Roma, havia a Cifra de Cesar em que era aplicado um valor a cada caractere transformando a mensagem. Em linhas gerais, a criptografia ainda funciona da mesma forma.
Para descrever vamos estabelecer os personagens. Alice e Bob querem se comunicar, e para isso vão usar Pedro como mensageiro. Alice e Bob, sem o conhecimento de Pedro, decidem qual será o método de criptografia aplicado as mensagens e qual será a chave de criptografia. Depois Alice escreve a mensagem, aplica o método de criptografia usando a chave e com isso é gerada a mensagem criptografada. Esta mensagem é enviada por Pedro. Bob ao receber a mensagem, deverá usar o método de criptografia para obter a mensagem original.
A Criptografia é segura?
Então o que a criptografia garante? Que o meio de comunicação é seguro. Assim se você enviar uma mensagem para um amigo, ela não poderá ser lida por alguém que estiver escutando na rede. Mas isso não garantirá que a mensagem não seja lida por outras pessoas. Usando aplicativos não temos acesso aos protocolos envolvidos, nem ao meio de armazenamento dessa mensagens e nem conhecemos o caminho que nossa mensagem percorre. Em um dos exemplos de falhas, o Telegram tinha todas as mensagens armazenadas em um servidor que podia ser facilmente acessado.
Para a criptografia ser realmente segura temos que garantir que entre Alice e Bob não existam intermediários e temos que conhecer o protocolo e o canal.
A Internet gratuita mas sequestrada
Até os anos 200 a Internet era livre, os servidores de conexão nos davam acesso com IP fixo e com isso poderíamos criar serviços nossos. Nessa época empresas poderiam nascer literalmente em garagens. Mas com a evolução de uma internet baseada em serviço ela começou a ser sequestrada.
Entre 2005 e 2013 por exemplo, o Google tinha um produto chamado Google Reader, com ele podíamos realmente nos manter atualizado de todas as nossas leituras online. O consumo de conteúdo era feito diretamente nos sites através do RSS, este por fim nos provia a informação de toda informação nova que acontecia.
Ironicamente o Google Reader foi descontinuado logo após a criação do Google+, a segunda rede social do Google. Logo depois houve um declínio das aplicações de RSS. Hoje nem se ouve mais falar desse protocolo, tornou-se irrelevante.
Mas fica a pergunta, quem nos atualiza? O serviços! Logo podemos fazer algumas perguntas a esses serviços:
- Somos informados de todas as informações?
- Essas informações que nos são providas passam por alguma curadoria?
- Quem tem acesso ao que eu ando lendo?
Todas essas perguntas são relevantes, porque elas limitam a nossa liberdade.
Hoje a internet pode ser muito mais gratuita do que era 20 anos atrás, mas ela não é livre. Qualquer informação que você consome é monitorada. Você é monitorado. Você é um produto a venda para Empresas, Partidos Políticos e Governos.